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Kantaruré

Conforme os Pankararu (grupo indígena brasileiro que habita as proximidades do médio rio São Francisco), a quem os Kantaruré atribuem sua "origem", o termo kantaruré designa uma figura mítica do universo mágico-religioso daquele povo indígena que geralmente aparece durante a realização de rituais: "Caboclo Brabo", "Pai do terreiro". De acordo com o depoimento de um ancião kantaruré, esse etnônimo foi sugerido por um índio pankararé, em contraposição ao até então adotado pelo grupo, "caboclos da Batida", quando do processo de reconhecimento oficial.

Atualmente os Kantaruré falam o português e as perdas culturais impossibilitam hoje sua identificação linguística.


 

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Os Kantaruré são descendentes da população indígena que originalmente habitava o trecho do rio São Francisco entre a cachoeira de Paulo Afonso, a embocadura do rio Pajeú e as caatingas, brejos e serras adjacentes.

Nas residências kantaruré há um predomínio de famílias nucleares, relacionadas por laços de parentesco e de compadrio horizontal. Mais recentemente, tem se observado uma tendência de descentralização do poder constituído internamente, expressa na alta rotatividade que vem caracterizando os cargos de cacique e pajé, fenômeno recorrente tanto na Batida quanto nas Pedras.

Um significativo contingente populacional kantaruré reside fora dos limites da Terra Indígena, em municípios vizinhos, como Paulo Afonso, em localidades relativamente próximas à Terra Indígena, em agrovilas implantadas pela Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) na região (principalmente a 2, a 5 e a 7), ou mesmo em outros estados, como Sergipe (Aracaju), Pernambuco (Petrolina, Petrolândia, Floresta), Piauí, São Paulo (Araçatuba), Mato Grosso e Belém. Muitos destes casos exemplificam o fenômeno da migração - sazonal ou permanente - estratégia comum entre trabalhadores rurais no contexto regional mais amplo, em virtude da ocorrência de longos períodos de seca. Outros, contudo, podem ser reputados aos casamentos com indivíduos de "fora", quando prevalece de modo geral como nova residência a localidade de origem do cônjuge de sexo masculino.

Os Kantaruré mantêm estreito contato com famílias "aparentadas" residentes em localidades vizinhas, como Baixa das Pedras de Cima, Olho D'Água dos Coelhos, Salgadinho dos Benícios e Agrovila 5. Há um índice significativo de casamentos dos Kantaruré com indivíduos provenientes dessas localidades. As famílias resultantes desses casamentos jamais chegaram a perder contato com os "parentes" da Batida e das Pedras. Muitas delas são, inclusive, reconhecidas na comunidade como Kantaruré. Parentes radicados em localidades distantes da área de origem geralmente preservam certas vias de acesso à comunidade, seja por possuírem "casa fechada na Batida", por terem deixado descendência no local, "virem sempre visitar", ou mesmo por um propalado interesse em retornarem para a Terra Indígena logo que possível.

A cosmologia kantaruré se articula a um complexo religioso indígena do sertão nordestino no qual se destacam ritos de possessão - geralmente designados "toré" - associados à cura e ao culto de antepassados e figuras míticas, propiciadas pelo uso da jurema e do tabaco. Os "terreiros" de culto e cemitério se localizam no espaço das próprias aldeias.

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