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Mariwin: Espíritos Ancestrais

Os indígenas da tribo Matis (Amazonas) têm uma crença em espíritos ancestrais denominados Mariwin.

Onipresentes nos discursos dirigidos às crianças, os mariwin são ancestrais genéricos (impessoais) cujo papel consiste em bater nas crianças com o objetivo de endurecer, disciplinar e torná-las mais ativas e vigorosas.

Muitas vezes, chegam na aldeia adultos adornados com máscaras, representando os espíritos ancestrais, munidos de varas, mexendo-se, curvando-se e grunhindo de modo assustador. As crianças são levadas a eles. A menos que consigam escapar, todos são açoitados, dos mais jovens aos pré-adolescentes. Os
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golpes não são dados para fazer mal, mas para insuflar o tônus.

Os chicotes do mariwin são feitos de talo da palmeira daratsintuk, e cada talo, quebrado ou não, só pode ser utilizado uma vez. Assim, nota-se a natureza individualizada da ligação entre a palmeira e cada criança, sugerindo que, assim como as plantas medicinais e as agulhas do tatuador que são usadas uma única vez, os golpes dados pelos mariwin tenham um valor propriamente terapêutico e preparatório.

Bater faz crescer: no caso de escassez de vegetais, se os legumes começam a faltar, os Matis, para encurtar o período de entre-safra, põem suas vestes e ornamentos cerimoniais e batem nas plantas de seu jardim a fim de incitar o seu desenvolvimento.

As crianças são também açoitadas e picadas na gengiva desde a idade de dois ou três anos. Tais golpes antecipam aquilo que virá em seguida, inauguram uma vida marcada por fustigação e picadas “terapêuticas”, entre as quais se destacam as perfurações ornamentais, as tatuagens, e a ação dos mariwin, marca dos rituais de açoitamento.

Há, de fato, dois tipos de mariwin, os put (“vermelhos”, com o corpo todo coberto de lama ocre-alaranjada) e os wisu (“negros”, cobertos de terra acinzentada). Os vermelhos, que são vistos como mais próximos dos viventes, provêm de locais distantes onde antigamente viviam os Matis: das roças abandonadas que são exploradas por causa da pupunha, já que não produzem mais plantas de consumo quotidiano como a mandioca e a banana. Os negros, por sua vez, vêm de mais longe: de buracos dentro dos barrancos, nas margens dos grandes rios.

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